Fernando Vieira percorreu todos os cargos no atletismo. Desde a atleta a treinador, passando por seccionista e juíz. Fernando Vieira retirou-se do atletismo deixando, na modalidade, uma marca muito própria.
Em entrevista ao site da Associação de Atletismo de Aveiro, o grande homenageado da recente Gala folheou o seu livro de memórias para uma conversa transversal a muito mais de 40 anos ligados à modalidade.
São 71 anos de vida, mais de metade dos quais estão ligados ao atletismo. Como atleta. Como seccionista. Como treinador. Como dirigente. Como juíz. Uff!, não acaba a relação umbilical que Fernando Vieira tem para com a “sua” modalidade.
E dizemos tem porque, apesar de ter-se retirado em 2014 de forma oficial, Fernando Vieira recusa-se colocar de lado a sua paixão, dedicando-se, agora, a ser um observador, atento, aos desempenhos dos atletas nacionais e estrangeiros, via televisão ou, assim que possa, ao vivo.
“Comecei em 1953/54, no Sport Comércio e Salgueiros, como atleta. Na altura, corríamos só em estrada. Era o chamado «aguadeiro» da equipa”, recorda o entrevistado, pelo telefone, com um sonoro sorriso pelo desfilar de memórias.
“O que é um aguadeiro? É uma força de expressão que utilizamos para definir aqueles que estavam dispostos a tudo, sobretudo na ajuda aos colegas de equipa.” E que colegas, acrescentamos nós. “Fiz parte de equipas onde estavam os internacionais Henrique Inglês, Manuel Sousa ou Francisco Oliveira”, conta. Gente grande, do atletismo, pois claro, porque grande também foi e continua a ser Fernando Vieira.
Na sua longa história de figura do atletismo, também há espaço para um capítulo onde entra o nome de Moniz Pereira, esse mesmo o denominado “senhor atletismo.” Fernando Vieira dá conta desse facto. “Foi no tempo em que estive no Liceu Camões. O Moniz Pereira era um dos responsáveis por um dos cursos, ligado ao atletismo, e foi ai que tomei conhecimento com ele.”
A vida foi dando as suas voltas e anos mais tarde eis que o “nosso” Fernando Vieira deixa o distrito do Porto e surge em Aveiro.
“Em 1969 vim para São João da Madeira, cidade onde durante 20 anos fui responsável pelas equipas de fundo da Molaflex. Passei, depois, para o Inatel e posteriormente para o desporto federado.”
De atleta, a treinador e seccionista. O passo seguinte, como devem imaginar, foi o ingresso no seio da arbitragem. A palavra é dada, uma vez mais, ao entrevistado. “Em 1971, ajudei no ajuizamento de algumas provas. Durante três anos, ou seja, entre 1971 e 1974, desempenhei as funções de árbitro regional. A partir de 74, e até 2014, fui árbitro nacional.”
Ao todo, foram uns redondos 40 anos como árbitro nacional. Tantos quantos têm a democracia portuguesa. “Julgo que está na hora de dar lugar aos mais novos”, justifica Fernando Vieira para colocar um ponto final na sua ligação efectiva ao atletismo.
Mas… alto. Com 71 anos de vida e muita jovialidade no espírito tinha que haver uma razão mais forte para largar a arbitragem. Justificar com um simples “dar lugar aos mais novos” não colhe para quem conhece bem este homem. “Sabe, até aqui tinha os filhos em casa, que faziam companhia à minha mulher, mas agora já não estão. Têm a vida deles e eu sinto-me na obrigação de estar com ela.” Agora sim, entendemos e compreendemos bem o motivo que levou o bom do Fernando a deixar a arbitragem e ter sido alvo de uma profunda, sincera e emotiva homenagem que foi alvo na última Gala da Associação de Atletismo de Aveiro.
No rápido olhar pela arbitragem lusa, Fernando Vieira, que admite ter sido um juiz austero e rigoroso na aplicação das leis, não tem dúvida em afirmar que “há uma boa imagem” dos nossos árbitros, “porque nos últimos anos, as coisas melhoraram imenso.”
“Antigamente, os juízes de Lisboa eram indicados para tudo e mais alguma coisa. Depois, foram os de Braga, fruto da construção da Pista nova, e, hoje em dia, alargou-se para o resto do país. Em Aveiro, por exemplo, o corpo de juízes é muito completo”, avalia aquele que percebe e bem, do assunto