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Sónia Tavares em entrevista

13/04/2012

Sónia Tavares: “É uma felicidade poder renovar com o Beira-Mar” 

Após seis meses ao serviço dos auri-negros, Sónia Tavares faz um balanço do que já passou e perspectiva o futuro e a possível participação nos Jogos Olímpicos. Conta também as razões pelas quais deixou o Sporting e reserva o seu futuro para o clube de Aveiro.

Associação de Atletismo de Aveiro - O que é que te levou a trocares o Sporting pelo Beira-Mar?

Sónia Tavares – Deixar o Sporting já era a minha opção no final da época passada. A ida para o Beira-Mar surgiu naturalmente, até porque nem existia na altura a secção de atletismo.

Tentei procurar outros clubes, falei na altura com o presidente do GCA Donas (Castelo Branco), clube que representei antes de chegar ao Sporting, mas o problema era o valor da transferência que seriam 4500€, uma despesa muito grande para um clube de pequena dimensão.

Entretanto o meu treinador [n.d.r. Engº José Silva] conhecia um dos vice-presidentes do Beira-Mar e colocou-lhe a hipótese de eu ingressar no clube. A direcção acabou por aceitar e a transferência surgiu já no último dia de inscrições.

AAA – Quais as razões para queres abandonar o Sporting?

ST – Após a saída do professor Moniz Pereira, há um ano e meio, deixou de existir um reconhecimento do trabalho que fazíamos. Ele gostava de ter a equipa unida: atletas, treinadores e dirigentes, e existia um reconhecimento verdadeiro, da parte do professor, do esforço feito pelos atletas e treinadores, apesar de muitas vezes os resultados poderem não ser os melhores. 

Na época passada, após sua saída, a pessoa que o substituiu [n.d.r. Cristina Coelho] não conseguiu manter esse espírito no clube.

Por isso é que já saíram do Sporting atletas como o Marco Fortes ou o Arnaldo Abrantes. O Sporting passou apenas a interessar-se pelos resultados, sem querer saber do estado e encargos dos atletas. E como eu vi isso a acontecer, acabei por achar que o melhor era mesmo sair.

AAA – No Beira-Mar existe algum tipo de problema desse género? 

ST - Não. Sinto-me realmente muito bem. O Beira-Mar não tem falhado com nada, tanto a nível de salários como em termos de apoio em custos de deslocações e equipamentos de treino. Até agora tenho sentido sempre apoio do clube, até para me deslocar às competições internacionais, apesar de não ser necessário.

AAA – Continuas a acreditar no projecto do Beira-Mar como no início?

ST - Sim. Sim, porque é um clube que trabalha muito bem e apesar de não ter tido uma excelente prestação no mundial, soube há pouco tempo que o clube tem interesse em renovar. É uma felicidade, porque era aquilo que eu queria desde o início.

AAA – A ideia de poderes sair está posta de lado?

ST – Sem dúvida. Quero continuar no Beira-Mar porque me dão todo o apoio necessário, mais não se pode pedir. O ideal era ter mais atletas a nível nacional. Existem já atletas de topo nacional a questionarem-me quais são as condições que o clube dá, porque o vêem como uma possibilidade e isso é uma porta aberta para o Beira-Mar progredir.

AAA - Especulou-se muito com o facto de poderes ter ingressado no Beira-Mar apenas para na próxima época integrares a equipa do Benfica, já que não é possível que a transferência possa ser feita directamente. É verdade?

ST - Não é verdade, mas é normal que as pessoas pudessem achar isso, até porque não seria a primeira a fazê-lo, devido ao protocolo existente entre os dois clubes. No entanto isso não faz qualquer sentido, porque se realmente eu quisesse ir para o Benfica teria pedido a carta de autorização ao Sporting ou então ficaria uma época a competir como atleta individual. 

Não tem lógica o Beira-Mar ter que pagar, como pagou, pela minha transferência para no próximo ano, depois de ter investido em mim, eu ir-me embora.

AAA - Em caso de poderes escolher entre o Beira-Mar e outro clube como o Benfica qual escolherias?

ST - Sempre o Beira-Mar.

AAA - No início da temporada afirmaste que não estarias a 100% na pista coberta e que o objectivo era a época de verão. Correu melhor do que esperavas?

ST - Sim, porque não treinei velocidade específica para os 60 metros, uma vez que quero apostar nos 200 metros para a pista ao ar livre, por uma questão de ser mais fácil para mim alcançar os mínimos para os Jogos Olímpicos nessa distância.

O único objectivo era correr os 60 metros nos Campeonatos de Portugal para conseguir conquistar dois títulos para o Beira-Mar. Mas como na primeira prova da época fiquei a seis centésimos dos mínimos para os Campeonatos do Mundo, eu e o meu treinador achámos que deveríamos apostar na qualificação, apesar de não termos alterado em nada o treino.

AAA - Qual é o balanço que fazes destes primeiros seis meses?

ST - É um balanço positivo, pela regularidade das marcas e apesar de não ter conseguido o meu melhor nos mundiais. 

Foi muito bom estar entre os 7,40 e os 7,30 nos 60 metros e foi muito bom também porque consegui títulos para o Beira-Mar, desde a Taça Nacional de Velocidade e Barreiras até aos dois títulos de 60 e 200 metros nos Campeonatos de Portugal, como a presença no mundial.

AAA - A participação nos Jogos Olímpicos é a prioridade para o que resta da temporada?

ST - É, sem dúvida. Começámos já a preparação tendo em vista a participação nos Jogos. Temos cerca de três meses até à primeira competição e como em tudo é preciso ter alguma sorte com os ventos, para tentar alcançar os mínimos para Londres 2012.

AAA - Sentes-te capaz de bater o recorde nacional dos 100 metros que pertence ainda a Lucrécia Jardim?

ST - É outros dos objectivos, apesar de não ser o objectivo principal. Nem sequer vou pensar nisso, porque primeiro necessito de me apurar para os Jogos Olímpicos e depois porque esse tipo de objectivos causa-nos muita ansiedade e acabamos por errar.

AAA - O que é necessário para existirem cada vez mais atletas de alto nível em Portugal?

ST - É importante primeiro que tudo a Federação e as Associações juntamente com o Ministério da Educação criassem um plano para existir um maior número de captações nas escolas.

Teriam que existir também centros de alto rendimento um pouco por todo o país, porque aquilo que acontece hoje em dia é que temos apenas um centro de alto rendimento em Lisboa e pontualmente treinadores destacados no Porto e isso acaba por ser mau para o atletismo.

AAA - Se pudesses prometer um objectivo aos adeptos do Beira-Mar, o que é que lhes podias prometer? 

ST - Não gosto de fazer promessas. Até porque o vento acaba por condicionar a corrida em velocidade. Por vezes podemos conseguir grandes marcas, mas se o vento for anti-regulamentar já não conta. 

Obviamente que vou lutar para que o Beira-Mar tenha uma atleta nos Jogos Olímpicos.

No entanto aquilo que posso prometer é esforço e dedicação e uma coisa é certa, se não existirem lesões, títulos para o Beira-Mar, sempre.

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